quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

incisivo




















I
cortante movimento de prazer
sob ele curvam sólidos
refestelam líquidos
pervertem aborrecidas virgens
em solstícios sexistas

entre lábios e clitóris
confronta a sede dialética
coincide e confunde-se
em exultações e rigidez

conas e bocas são iguais
entre incisivos subvertem
vigoram como armadilhas
e caem em ciladas
misoginias e outros jogos

entregam-se à gula
não têm pudor
vingam-se em emboscadas
de desejos e gana.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

canino





















I
mordedura revelada
sem ater-se à presa
ou à agonia
do olho dilacerado

quatro lâminas a se tocar
nas pontas afiadas saboreia
a devoção ao sangue
refestelada na língua

entrega-se aos recortes
miúdos e quase mudos
à dor alheia
à liberdade entre os dentes

e ao nocauteado resta a lona
os caninos cravados
na nervura da carne
do confete rubro no chão.

sábado, 8 de outubro de 2011

parábola





















em outras eras
lancei-me
subi o quanto pude
projétil e palavra
a esmo
sem ter-me

e divaguei na
vertigem vazia
da queda

qual pedra
ao encontrar
o solo

quebrei-me
em mil
para estar
no centro

e o repuxo
fez-me inércia
que na descoberta
sempre pede
a dor
do chão!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

cimo


























sou querer empírico
responsabilizada de ser
resvalando-me na inércia
de não ser

tento abrir as portas
que me afastam de mim
mesmo condenada
à liberdade insólita
do não poder
cimo

épica e lenta descoberta
corrompida pelo ego
qual Sísifo interno-me
eterna jornada
no subir e descer
da pedra.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

amanhece,
























em marina, em solo
de cabelos negros
sorriso de menino
chega-me e vá embora

deixe,
tudo está em calma
o mar em ti flutua
o sol em mim atua
um misto de solidão
e cura

deixa,
que amor é o melhor
é bem e o mal maior
que nos atinge em fúria
na luta de história sã.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

morta


























deleite insaciável deglutia
todas as subjetivas alheias
palavras roubadas e capengas
de quem mal se conhece e
mal sabe orar

que importa língua presa
gagueira, mal falar
restava o masturbar
para chamar atenção
pra si

domingo, 8 de maio de 2011

A fábula do vidro e do tijolo



















pela vidraça vê-se o muro
vê-se furos
no paladar!

não há o que se esconda
e se oponha
à dor de fronha
e a amores de chafariz

é tudo tão caro
que o metal não pode pagar
beijara teus tijolos
e ainda trazia na língua
os esporos alheios

enganando-se cotidiano
e os olhos secos se fecham
na esperança da chuva
da fonte na praça central.

sábado, 16 de abril de 2011

baile de máscaras



























infiel dançava
infiltrada entre tantas
faces disfarçadas

dois pra lá
dois pra cá
rodopiavam

vestido de cetim alvo
como a sua alma
jamais sonhara ser

olhos em olhos vagos
como cadeiras teatrais
querendo o novo e mais

no fim da música
para de bailar
mas continua a dissimular.






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sexta-feira, 8 de abril de 2011

do exclusivo




























o sabor incisivo
a arcada dentária
como identificação
de dolo

a cárie enfática
inocente
que domina
a isonomia dos falos.




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terça-feira, 8 de março de 2011



























é brando e silencioso
posso tocar-te o som
tive-o carinho cálido de pai
do braço amigo que estende a mão
e alerta

no caos com poucos portos
sem âncoras ou horizontes
mareados oceanos dialéticos
revoltam-se conta a nau
poderia o rochedo ser sentimental?

quantas idas e vindas
marolas e tempestades
o casco duro se fere
em grandes descobertas

é quem ampara em signos múltiplos
pedra fundamental!



























ainda trago-te marcado em mim
como o último trago
como o único gozo
em seus olhos negros
eu sua cabeleira ao vento
montado nos segredos soturnos
cavalgando as elegias
duma noite sem lua
trago-te
é a fumaça que me embriaga
os olhos da taça de vinho
o respirar profundo
o amor defunto
quisera te deixar descansar
em teu sono eterno...

mas ainda trago-te marcado em mim
como a última gota
como o único cale-se
em meus olhos negros
na minha cabeleira ao vento
montada em sua carne latejante
cavalgando as alegorias
duma vida sem lume
trago-te
é porre de menina-moça
o hímen desvirginado
o suspirar profundo
o gozo moribundo
quisera que eu desistisse
eu sou o sono eterno...


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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011























o mundo se calou
e as explosões de cores idem
monocromático
mesodramático
endométrio de amada
virada ao avesso

Goya, que te sobre as sombras
e os ecos das palavras
que não escutarás mais!

fundiu-se em figura e fera
qual quem sangra sem corte
violentou-se em silêncios
pois seu coração
fez-se fragmentos de bombas
da guerra dos outros

Goya, que te sobre as sombras
e os ecos das palavras
que não escutarás mais!

e se não bastasse todos
os espectros que o seguiam
em suas horas de tormenta
percebera suas imagens nuas
sendo arrastadas em carroça
queimada no dia do mito

Goya, não adianta chamar!


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